O arcebispo de Erbil (Iraque), D. Bashar Warda, disse hoje à Agência Ecclesia que tem a “esperança” de que o novo presidente dos EUA, Donald
Trump, cumpra a promessa de combater o autoproclamado ‘Estado Islâmico’,
o Daesh.
“O novo presidente disse que queria combater o Daesh de outra forma e
pôr um fim a esta violência, a esta maldade, por isso esperamos que a
mudança política afete de forma positiva a vida das pessoas no Médio
Oriente”, explicou.
“Sabemos e sempre dizemos que a América tem uma responsabilidade moral em relação ao Iraque, por causa da mudança de 2003 [fim do regime de Saddam Hussein], e devem
levá-la a sério, têm de estar empenhados nisso”, acrescentou o
responsável católico.
O arcebispo de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, está em Portugal
no contexto da apresentação do relatório sobre a Liberdade Religiosa no
mundo, que a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) promoveu hoje, na
Sociedade de Geografia, em Lisboa.
Para o arcebispo iraquiano, o relatório é um documento “chocante”, que
mostra sérias violações aos Direitos Humanos, pedindo que o Ocidente
“acorde” e tome “iniciativas” no plano político, económico e social para
ajudar as minorias religiosas.
D. Bashar Warda fala do Daesh como um “cancro”, com o qual não há
possibilidade de “diálogo”, exigindo um “tratamento radical”, que inclua
“pressão política” e aposta na educação.
O Iraque tem sido palco, há mais de uma década, de violência “direta”
contra cristãos, gerando uma “grande onda” que afeta estas comunidades,
as quais passaram de 1,3 milhões de pessoas para menos 300 mil.
“Sofremos muito, por causa desta violência”, confessa o arcebispo de Erbil.
A diocese tem vindo a receber milhares de famílias iraquianas que agora
aguardam pelo fim da guerra para regressarem a casa, com a ajuda de
várias organizações solidárias da Igreja Católica.
“Todos estão à espera da libertação total de Mossul e das planícies de Nínive”, precisa.
Depois de em outubro, o Papa Francisco ter renovado a sua
disponibilidade para visitar os cristãos do Iraque, D. Bashar Warda
admite que uma viagem pontifícia iria “encorajar muito os cristãos”,
dando “mais apoio à presença” da Igreja.
“Rezamos e desejamos que isto aconteça em breve”, assinala o arcebispo, que já convidou o Papa em duas ocasiões.
O duplo convite encontrou bom acolhimento, mas Francisco ainda está à
espera das “circunstâncias certas” para que a visita possa acontecer.
Numa análise ao período entre junho de 2014 e junho de 2016, o
relatório sobre Liberdade Religiosa no Mundo, da AIS, dá conta do
surgimento de “um novo fenómeno de violência com motivação religiosa,
que pode ser descrita como hiperextremismo islamita, um processo de
radicalização intensificada, sem precedentes na sua expressão violenta”.
Na apresentação do documento, D. Banhar Warda deixou o seu testemunho
acerca de uma comunidade que acolhe atualmente milhares de cristãos
perseguidos, vindos de outras regiões do país que foram tomadas pelo
Estado Islâmico.